A fábrica ou a cidade: qual modelo de Educação a
distância via web?[1]
Andrew Feenberg[2]
Resumo: Este artigo discute o uso da
Internet na Educação a distância no ensino superior, principalmente a
utilização dos diálogos os quais proporcionam a interação entre estudantes e
entre estudantes e professores, sendo um importante fator de mudança social.
Palavras
chave: tecnologia educacional – diálogos – Educação online
Abstract: This
paper presents the use of Internet in e-learning programas in Higher Education.
It shows that educacional technology can bring the dialogue. The dialogic
approach to online education could be an important factor making for
fundamental social charge.
Key words: educational technology – dialogues – online
education
1.
Tecnologia e modernidade
A
recente discussão sobre a Internet enfatiza a promessa de uma época que traz
mudanças em nossas vidas. Em nenhum
campo do conhecimento estas mudanças foram e estão sendo tão antecipadas como
na Educação. Sabemos que o conteúdo
substancial da Educação pode agora ser mais facilmente entregue por
computadores do que por professores.
Estamos no auge de uma transformação fundamental de todas nossas
suposições sobre a Educação na medida em que incorporamos a era pós-industrial
da informação, ou testemunhamos mudanças significativas, mas mais modestas
nesta área, como nós a conhecemos? Como
um participante do início do desenvolvimento
da Educação on-line, eu espero poder
trazer um toque de realismo ao debate.
O
debate não é limitado à Educação, que é simplesmente uma entre tantas frentes
de batalha para definir a sociedade do futuro cujo significado, inclusive o de
modernidade, está em jogo. Um resultado possível é a sociedade refletindo em
todas as suas instituições a lógica da produção moderna, obcecada pela
eficiência alcançada por meio da mecanização e do gerenciamento. A Internet
poderia servir a este projeto tecnocrata em domínios até aqui protegidos como a
Educação. Mas se pode imaginar um resultado muito diferente moldado não na
fábrica, mas em outra moderna instituição, a cidade.
A
cidade é o lugar de interações cosmopolitas e comunicação crescente. Seu ‘deus’
não é a eficiência, mas a liberdade. Não é dedicada à rígida reprodução do
mesmo, ‘o melhor caminho’, mas ao teste flexível de possibilidades e o
desenvolvimento do novo. Não o controle hierárquico mas os contatos horizontais
não planejados. Não a simplificação e a padronização mas a variedade e o
crescimento das capacidades exigidas para viver num mundo mais complexo[3].
A Internet estende essa lógica urbana de um modo radicalmente novo.
A
questão subentendida no debate sobre tecnologia educacional é, portanto: qual
modelo, a fábrica ou a cidade, vai moldar o futuro da Educação? A Educação online
pode servir tanto para ambas as estratégias em diferentes configurações
técnicas. A Educação automatizada é
possível, se bem que ao preço de sua redefinição. A generalização, na
Internet, de um conceito de Educação centrada na interatividade humana,
facilitaria a participação de grupos menos favorecidos e poderia aumentar o
nível cultural da população como um todo.
Esta
última questão traz um significante precedente. É claro que o desaparecimento
gradual do trabalho infantil e o conseqüente estabelecimento da Educação
universal transformaram as sociedades modernas e moldaram o tipo de pessoas que
nelas habitam. Até onde somos capazes de entender o complexo mundo
tecnologizado ao nosso redor e agir independentes dentro dele, isto é devido à
grande extensão de tempo para aprender
que as sociedades modernas oferecem.
Entretanto,
há uma ligação forte entre a Educação e a divisão do trabalho, com o último
determinando o anterior em longos períodos. Onde a produção não
qualificada governa as expectativas
educacionais, níveis culturais permanecem relativamente baixos. Marx não viu nenhuma saída desta situação
conquanto que o capitalismo sobrevivesse para impor sua divisão de trabalho.
Mas o capitalismo está vivo, muito depois da demanda por habilidade ter surgido
para abranger uma fração significante da força de trabalho. A conseqüência foi
um tremendo dinamismo educacional. A Educação de adultos, por exemplo, abrange
hoje em dia, mais da metade de estudantes em programas de faculdades
americanas, um reflexo da escassez de competências no contexto de trabalho.
Ainda
se questiona quanto mais esta tendência irá sob o capitalismo. Em primeiro
lugar, a crescente demanda por trabalho educado no mundo capitalista avançado
está acompanhada pela exportação de manufaturados para países pobres. Enquanto
trabalhadores habilitados e organizados sofrem quedas íngremes em sua renda e
na segurança de trabalho em países desenvolvidos, padrões antigos de
industrialização aparecem em todos os outros lugares. O efeito da rede pode bem
ser um aumento global de trabalho não-qualificado a despeito de o contrário
aparecer em lugares como o Vale do Silicone. Em segundo lugar, líderes mundiais
começam a ficar bastante alarmados pelo alto custo da Educação que é atualmente
o maior orçamento em praticamente todo país capitalista desenvolvido. Nos
Estados Unidos, a promessa da Internet inspirou uma ofensiva ideológica em
favor da Educação automatizada e não qualificada. Esses problemas sugerem a
contínua relevância da teoria crítica para uma política educacional.
2. Os Significados da Internet
Uma
das primeiras tecnologias educacionais foi a escrita e como toda tecnologia
subseqüente, teve suas críticas. Platão a denunciou por sua impossibilidade de
recriar o discurso falado. Escrever é análogo a pintar, ele no remete a
Sócrates argumentando nO Fedro (um texto que, apropriadamente, representa uma conversação íntima entre
professor e aluno).
Os produtos
dos pintores ficam em frente a nós como se estivessem vivos. Mas se os
questionarmos, eles mantém o mais majestoso silêncio. O mesmo acontece com as
palavras escritas; elas parecem falar conosco como se fossem inteligentes, mas
se perguntarmos a elas algo sobre o que dizem, de um desejo de estar instruído,
elas continuarão nos contando as mesmas coisas sempre (Platão,
1961: 521).
Para
resumir, Platão sustenta que a tecnologia da escrita tem o poder de destruir o
relacionamento que deve unir professor e estudante. Tecnologia em formato de
escrita é a inimiga do toque humano, uma posição familiar das críticas à vida
moderna. Com que freqüência ouvimos que a tecnologia aliena, “enquadra” e
desumaniza, que sistemas tecnológicos entram nas relações humanas,
despersonalizando a vida social e neutralizando sua aplicações normativas?
Poderia ser que o preconceito humanístico contra o computador pudesse ser
semelhante ao de Platão com relação à escrita?
Ironicamente,
Platão usou um texto escrito como
veículo para sua crítica à escrita, estabelecendo um precedente que continuamos
a seguir hoje em dia em debates sobre tecnologia educacional: a maior parte dos
ataques vociferantes sobre a imprensa digital circula na Internet (Noble, 1997).
Como
Platão a vê, o meio pelo qual nos comunicamos determina a qualidade de nossas
interações. Mas esta é uma visão bastante defeituosa, como vimos no caso da
Internet. Antes, o impacto social da tecnologia depende de como ela é desenhada
e utilizada. A escrita pode emprestar a ela mesma diálogos contínuos entre
professores e alunos e o discurso pode, facilmente, se tornar parcial.
Entretanto,
enquanto a condenação de Platão à escrita era injusta, ele nos alertava para a
verdadeira questão: quando uma tecnologia educacional nova é introduzida,
surgem argumentos para substituir a interação com a tecnologia para o processo
da troca intelectual. Mas há algo sobre o diálogo e o envolvimento ativo do
professor, que é fundamental para o processo educacional e que deveria ser
criado no design de toda nova ferramenta de instrução. Qualquer quebra
com essa assunção poderia contar para uma mudança de época na comunicação entre
as gerações. No final então, a questão que surge é se nós ainda podemos
defender um entendimento da Educação como Platão ou se a Internet, uma
tecnologia mais poderosa que a escrita, finalmente entregou-se a sua obsoleta
concepção. Nem a televisão nem um computador pessoal foram capazes de alcançar
essa façanha, mas muitos acreditam que tais possibilidades nos aguardam somente
a alguns quilômetros nessa super-rodovia da informação.
O
otimismo destes advogados da Educação automatizada alimenta longas desconfianças
humanísticas nos computadores. O computador aparece como o emblema do
experimento moderno no controle racional total. É esta imagem do computador que
inspira muito da corrente retórica da Educação online, ambas a favor e contra.
Até
ao ponto em que os pensadores sociais temam ou antecipem uma sociedade
automatizada, eles rejeitam ou admiram o computador. Enquanto tecnocratas
saúdam o poder do computador para entregarem-se a uma vida social transparente
e controlável, os humanistas prevêem a dominação do homem pela máquina. Em
1962, Heidegger ofereceu um típico exemplo dessa visão pessimista. Ele explicou
a diferença entre linguagem falada, que revela o mundo e a linguagem como mero
signo, transmite uma mensagem, um fragmento de informação já constituído. A
perfeição do discurso é poesia, que abre a linguagem ao ser. A perfeição do
signo é a posição ambígua de um botão, ligado ou desligado, como no código
Morse ou na memória de um computador. Heidegger escreve:
A construção
e a eficácia do computador baseiam-se em princípios tecno-calculativos desta
transformação da linguagem falada para a linguagem como mensagem e como mera
produção de signos. O ponto decisivo de nossa reflexão é que as possibilidades
técnicas da máquina prescrevem como a linguagem pode e deve ser linguagem. O
tipo e estilo da linguagem são determinados de acordo com as possibilidades
técnicas da produção formal de signos, uma produção que consiste em executar
uma seqüência contínua de decisões positivas-negativas com a maior velocidade possível....
o modo da linguagem é determinado pela técnica (Heidegger, 1998: 140,
tradução modificada).
E
Heidegger segue anunciando o fim do Homem sob o impacto do computador.
Lyotard
concordou em seu livro de 1979, A
Condição Pós-moderna. Eis a sua contribuição:
O
conhecimento não pode entrar nesses novos canais (computador)... a menos que
ele seja capaz de ser traduzido para quantidades de informação. É previsível
que tudo o que pertence ao corpo constituído de conhecimento que não é tão
traduzível será abandonado, e que a orientação de nova pesquisa estará
subordinada à condição de que resultados eventuais sejam traduzíveis para a
língua da máquina...consequentemente, pode-se esperar que o conhecimento será
rigorosamente externalizado com relação ao “conhecedor” (Lyotard,
1979: 13).
Lyotard
prevê o desaparecimento da cultura humanística e a completa modificação do
conhecimento em uma sociedade pós-moderna (Feenberg, 1995: cap 6).
Estes
pensadores trazem a diferença entre o conhecimento considerado puramente como
dados, mera informação, e o conhecimento como um processo vivo de descoberta,
crescimento e comunicação entre seres humanos. Uma crítica sobre Educação
automatizada poderia ser construída sobre esta base, mas seria muito
abrangente. Heidegger e Lyotard atribuem o problema à estrutura dos
computadores e não nos designs particulares ou aplicações. Se eles estão
certos pode não haver realizações alternativas da tecnologia com conseqüências
sociais diferentes. É a digitalização
mesma que é a vilã.
Tudo
isso se torna divertido lido por filósofos, mas está demasiadamente errado. O
que realmente aconteceu à linguagem em um mundo cada vez mais dominado por
computadores? Ela foi, de fato, considerada um discurso técnico purificado pela
significância humana? Ao contrário, a Internet agora traz uma verdadeira onda
do “falar”, da linguagem usada para expressão como no passado[4].
É claro que não precisamos estar muito interessados nessa conversa ‘online’,
mas essa é uma outra história. O simples fato é que as reflexões filosóficas
sobre o computador estavam erradas. Elas não apenas falharam ao prever a
transformação do computador em uma mídia de comunicação, mas excluíram essa
possibilidade por razões essenciais.
Foi
somente nos anos 80 que a comunicação eletrônica através de computadores
explodiu, indo além das corporações nas
quais ela estava confinada até então, indo para os lares. O primeiro avanço
ocorreu na França, onde o sistema Minitel[5]
atraiu rapidamente milhões de usuários. Dentro de uma década a Internet mudou
para sempre a imagem do computador. Foram basicamente os não-profissionais (ou
profissionais não associados com o desenho e a gerência de sistemas) que foram
os precursores do uso inesperado das novas tecnologias. E eles foram bem
sucedidos porque pessoas comuns queriam computadores para servir a suas metas e
não somente pelas suas funções oficiais criadas por especialistas. No processo,
eles refutaram largamente suposições determinísticas sobre as implicações
fundamentais do computador e revelaram seu potencial comunicativo.
O Minitel foi o primeiro
programa de rede doméstica de larga escala. No início dos anos 80, a companhia
francesa de telefonia distribuiu seis milhões de terminais conectados a um
pacote de redes de troca, no qual usuários podiam ser facilmente conectados.
Esta foi uma antecipação nacional de que a Internet se tornaria numa escala
global. O sistema foi desenhado por tecnocratas da companhia telefônica que a
conceituou como uma maneira de modernizar a sociedade francesa através da
melhora dos seus cidadãos ao acesso a recursos da informação. A comunicação
humana com a rede de computadores não era originalmente parte do design
ou, como é mencionada em documentos antigos, estava longe de ser prioridade.
Como resultado, o hardware e o software não foram concebidos para comunicação
humana, apesar de não ter sido tecnicamente impossível. Logo em seguida, os hackers
abriram a rede para a comunicação humana que logo se tornou uma das suas
funcionalidades centrais (Feenberg,1995:cap.7), sendo um caso emblemático da
transformação democrática das redes técnicas por atores humanos que elas
envolvem, inovando recentes formas sociais.
Mas
esta transformação é realmente significativa do ponto de vista democrático? Não
é somente uma “racionalização de mercado” respondendo a motivações comerciais?
Afinal de contas, a maior parte da comunicação online sustentada pelo
sistema Minitel, e mais recentemente pela Internet, não é de nenhuma
significância pública. Mas transponha o caso para o campus de uma universidade
e a questão está clara. Suponha que o reitor promulgasse uma nova regra
proibindo toda conversação não oficial no campus. Isso seria facilmente
percebido como antidemocrático de fato, positivamente totalitário. E por quê? Por duas razões: a primeira,
porque reduziria pessoas complexas às simples funções às quais elas servem em
uma instituição específica; e segundo, porque seria impossível articular
queixas que levariam a mudanças na instituição. Absurdo como este exemplo pode
parecer, poderia bem apresentar-se nos campi virtuais nos quais os sistemas de
ensino automatizados substituem o
contato humano.
Em
todo o caso, esta analogia ilumina o caso do Minitel. Dobrar o espaço social real pelo espaço
virtual de redes de computador, abre possibilidades comunicativas novas para
todos. Limitar a interação a um
subconjunto oficial, tal como uma comunicação de negócios ou governamentais tem
implicações não-democráricas online, exatamente como no exemplo do campus. Felizmente, tais limites não foram impostos.
Em
exemplo semelhante na Internet, as bases foram bem além do exemplo do
Minitel. As organizações corporativas e
governamentais globalizam-se na Internet hoje sem restrição. Os obstáculos a uma comunicação humana nas
redes de computador que tinham sido introduzidas impediam uma globalização
comparável a da crítica do cidadão. Os
eventos, tais como os protestos das organizações de comércio mundial, seriam
muito menos prováveis em um ambiente onde o negócio fosse sempre mais
cosmopolita e os cidadãos, ainda provinciais em seus contatos e atitudes. Isto não quer dizer que a Internet causa ou
determina qualquer coisa em particular do lado das linhas de batalha extraídas
em Seattle. Mas a exclusão da comunicação humana da Internet certamente teria
conseqüências não-democráticas.
Este
é o contexto em que se avalia a abertura das redes por usuários às aplicações
comunicativas inovadoras, ser sábio após os fatos consumados é fácil, nós
olhamos para trás na história da computação com a certeza de que ela sempre
objetivou facilitar contatos humanos e,
por isso, queixamo-nos de que ele não tenha um bom desempenho. Se nós "seguirmos os atores," como
advoga Bruno Latour[6],
nós descobriremos um retrato muito diferente para o qual as redes foram
inventadas e reinventadas por usuários como lugares de encontros pessoais.
Há
apenas vinte e poucos anos, imaginou-se que o futuro conduziria a aplicações
aparentemente triviais tais como o email. Mas parece hoje óbvio que o computador é um
meio vital de uma comunicação e não um dispositivo de armazenamento de dados
apenas. Sua definição mudou para um
sentido determinado pelo processo social, mas a história ainda não. O computador não é ainda um produto acabado,
mas está ainda no seu fluxo evolutivo, sujeito a uma larga escala de
influências sociais e demandas. Mas este
fato significa também que nós dependemos dos computadores para que a definição
mesma de vida moderna se solidifique.
Como
as universidades se moveram em direção à Educação online, vão tornar-se
as batedoras mais significativas neste esforço de construir o significado de
modernidade. As iniciativas baseadas no
computador polarizam ao seu redor duas alternativas de compreensão sobre ele
como tecnologia educacional. Ele é um motor do controle ou um meio de
comunicação? Esta escolha que os
usuários do Minitel e da Internet de décadas atrás enfrentaram, retorna, hoje,
como uma opção viva no mundo da Educação.
A automatização da Educação confia na primeira opção (motor de
controle), a solução informática que
incorpore o ensino face-a-face, confia na segunda (meio de comunicação). A seguir, discutirei essa segunda solução
como uma alternativa técnica progressista.
3.
Automatizando a Educação
Por
que alguém quereria automatizar tarefas educacionais altamente complexas? Alguns podem discutir que a tecnologia pode
entregar os conteúdos educacionais mais eficazmente do que a universidade,
dando poder para o estudante que é presumidamente oprimido ou mal atendido pelo
professor. Outros reivindicariam que a
Educação automatizada oferece opções mais "amigáveis" para adultos
trabalhadores-consumidores. A Educação
automatizada é vista como aquela que promove virtudes pós-industriais tais
como: flexibilidade temporal e espacial, produtos individualizados e controle pessoal, mas na análise final, a
razão principal para automatizar é óbvia:
redução de custos.
O
custo, naturalmente, é o interesse dos administradores e para muitos deles as
grandes edições da Educação online não são educacionais, mas
financeiras. Esperam usar a tecnologia
nova para conter a crise que está vindo com as despesas da Educação superior e
acomodar novas demandas de muitos jovens e de estudantes que querem retornar às
universidades. A Educação online
automatizada é supostamente para melhorar a qualidade enquanto corta
custos. Os estudantes em salas de aula
virtuais não necessitam de nenhuma estrutura nova, e ainda, os cursos podem ser
empacotados e introduzidos no mercado, gerando um fluxo contínuo de rendimentos
sem mais investimentos adicionais.
Tudo
isto se deve a um anel familiar que descreve as escolas tradicionais de
correspondência. Estas escolas
alimentaram seus estudantes, em sua própria casa, de originais escritos ou
transmissões de tevê e/ou rádio.
Comparado à Educação em sala de aula, as economias de escala na produção
dos originais e nessas transmissões rendem economias de custo tremendas. Este trabalho aproxima-se do custo zero
porque a escola adquire um número de materiais reutilizáveis e substitutos para professores titulados do
tipo professores profissionais.
A Internet pode elevar o nível da Educação
barata, aquela por correspondência, melhorando os materiais disponíveis ao
estudante, até ao ponto de que algumas tentativas anteriores em substituir
professores falharam, por razões puramente técnicas, a Internet parece ser uma
boa promessa. Em sua habilidade de
transmitir materiais e programas gráficos emocionantes, assim como faz com o
texto, então ela representa um avanço considerável sobre as escolas por
correspondência do passado. Pode mesmo
oferecer imitações reais de tarefas intensivas, tais como os FAQs (bancos de
perguntas mais freqüentes) e os programas “Ask the experts” (pergunte ao
especialista). Os “Intelligent
Agents" (agentes inteligentes) podem adaptar programas aos estilos de
aprendizagem dos estudantes (Kearsley, 1993).
E, inacreditavelmente, pode ser mesmo possível automatizar e classificar alguns tipos de testes de dissertações,
como Peter Foltz e de Thomas Landauer descrevem seu "Inteligente Essay
Assessor" ( assessor inteligente de
dissertações) baseado numa técnica chamada "Latent Semantic Analysis”
(Análise Semântica Latente) (Foltz, 1996).
De acordo com o Papel em branco de Coopers & Lybrand, este
tipo de software terá logo um impacto radical sobre as realidades diárias da
Educação superior. "[ A ] mere 25
courses" um pacote de software instrucional poderia assegurar 80% dos
módulos principais dos cursos anteriores à graduação; com um “help-desk” de 24 horas poderia adicionar um toque pessoal
(Coopers & Lybrand, 1997)[7].
A
chave para a automatização é separar "conteúdo informacional" do
"processo”. Um número pequeno de "conteúdos específicos"
trabalhará como “estrelas performáticas” quando o processo de entrega de
tarefas for designado para que os tutores baratos possam assegurar a interação
com estudantes. Em uma solução de custo
realmente baixo, a discussão pode ser substituída por exercícios
automatizados. Eventualmente será
possível dispensar completamente os campi.
Os estudantes escolherão os cursos num equivalente educacional do
Blockbuster[8]
e cursarâo o College em casa sem nunca encontrar-se com um colega de turma
(Agre, 1999).
As
estratégias da automatização retrocederam.
Os trabalhadores hábeis são caros e a automatização é uma estratégia de
ganhar tempo e cortar custos. A história
começa no início do século XIX, quando os fabricantes de têxteis do norte da
Inglaterra descobriram que poderiam substituir o hábil trabalho manual pela
mecanização, aliás toda a História da industrialização é dominada por esta
estratégia.
Eis
como o "filósofo da manufatura", no século XIX, Andrew Ure descreveu
esse objetivo em 1835:
“Isto
ocorre por causa da enfermidade da natureza humana, o mais hábil trabalhador, o
mais teimoso e intratável está apto
tornar-se, é claro, um componente de um sistema mecânico, em que, por
irregularidades ocasionais, pode trazer danos grandes ao todo. O grade objetivo do fabricante moderno é,
através da união do capital e da ciência, reduzir a tarefa de seus trabalhadores
ao exercício da vigilância e da destreza (Ure, 1835: 18).”
Isto
não é uma versão mais glamorosa do futuro de uma Educação realmente
plausível? É provável que os professores
"teimosos e intratáveis" desaparecerão como os tecelões, sapateiros e
tipógrafos? Provavelmente não, mas se a
tecnologia está próxima de desabilitar o professorado é menos importante que o
fato de que esta idéia ocupe um lugar chave na imaginação de muitos querem
reformar a Educação.
A
idéia de substituir professores por computadores é velha, mas até recentemente
poucos tecnologistas e administradores da Educação estiveram convencidos disto.
O ideal da Educação automatizada é, sem dúvida nenhuma, visto por uma minoria,
mas ganhou plausibilidade suficiente com
os avanços da computação e da Internet, para ocupar um espaço considerável no
discurso público. Outra tendência atual
é a "retro-alimentação da Educação em ritmo individual". A idéia essencial é aquela de que numa
universidade virtual futura, o acompanhamento não dependerá mais da carga
horária curricular, mas, certamente, das horas de contato com professores.
Muito
da retórica de hoje sobre a reforma, com suas apelações ao potencial
revolucionário das universidades virtuais e de níveis de estudo baseado em
competências, sugere a obsolescência do campus tradicional e de seus
métodos de ensinar, despertando a
suspeita de que a tecnologia estará sendo utilizada contra as
universidades. Mais adiante, se os
professores fossem expulsos realmente da sala de aula, nós incorporaríamos
verdadeiramente uma nova era. Um projeto fundamental das sociedades modernas, a
substituição do controle técnico por métodos tradicionais e dispositivos para
arranjos sociais, aqui, foge da esfera da produção a que foi grandemente
confinada até agora e incorpora o domínio da reprodução social. Este modelo "desenterra" o processo
educacional, sua desconexão do ajuste local do campus, é também sua
depersonalização. Se os contatos humanos
forem mais uma questão central, então é fundamental que venha um processo de
crescimento para a Educação, e, nós
estamos sendo conduzidos, certamente, para um ideal muito diferente de
maturidade e um tipo muito diferente desta sociedade moderna na qual vivemos no
presente. Mas isto é uma conseqüência
necessária da modernização?
Ironicamente,
a teoria contemporânea (se não a própria prática) no mundo dos negócios deixou
para trás o fascínio da era industrial pela desabilitação. Começando com o best seller de Peters
e Waterman de 1982: Na busca da excelência, o antigo modelo de
Frederick Taylor em desabilitar o trabalho e a gerência hierárquica foi o
responsável por tudo que afligia o negócio americano. Depois disso a lição foi martelada, dúzias de
livros similares devotados a explorar uma terceira maneira, uma alternativa à
velha oposição "homem" X "máquina."
A
contribuição de Shoshanna Zuboff a esta literatura enfatiza a complementaridade
de potencialidades do ser humano e do computador. Enquanto os seres humanos forem melhores para
tratar das situações inesperadas e responder às novidades dos computadores,
poderão organizar uma vasta quantidade de dados requeridos pela produção
moderna. Uma complementaridade similar
está no trabalho da Educação: o professor controla o processo complexo e
impredizível de uma comunicação em sala de aula, enquanto isso os conteúdos são
entregues nos livros-texto (e agora por computadores também).
As
especificidades da literatura sobre os negócios não se aplicam sempre às
faculdades e às universidades, mas a ênfase de Zuboff na escolha tecnológica é
relevante. Infelizmente,a Educação
Superior ainda não compreendeu completamente a mensagem. Muitos reitores de universidade continuam a
vender seus conteúdos na inevitabilidade da computação, como se a
existência mesma desses dispositivos novos se ajustasse à agenda da reforma de
maneira bem defenida e não-ambígua. E
existe ainda abundância da oposição da faculdade às supostas conseqüências dos
meios novos, como se seu impacto fosse pré-determinado (Feenberg, 1999; Farber, 1998).
A
Educação superior tem um orçamento $200 bilhões[9]
e emprega e presta serviços a muitos milhões de pessoas. A forma do futuro educacional é a forma de
nossa sociedade e cada vez mais será coorporativa, pois os modelos
profissionais prevalecerão. A erosão do status
tradicional da faculdade continua rapidamente nas instituições inovadoras que
servem a estudantes adultos, mais da metade deles no ensino superior. Mesmo as
universidades mais antigas que ensinam agora uma pequena fração dos estudantes,
empregam mais e mais pessoas em meio período na busca da
"flexibilidade." E isto está
tornando mais difícil de resistir aos argumentos contra os titulares que ajudam
a construir a convicção com o público,
se não com a maioria dos membros da comunidade acadêmica.
Isto
explica porque há tantaresistência da faculdade à nova tecnologia. A faculdade
detecta a continuidade no entusiasmo da administração para a redução de custos
à custa de papéis e valores educacionais tradicionais. Entre 1970 e 1995, o número de faculdades de
tempo integral aumentou a metade enquanto que as de tempo parcial
dobraram. Se a tendência continuar, os
professores de paríodo parcial alcançarão, em número de campus, as faculdades
de tempo integral nos próximos anos. Em
faculdades comunitárias, as de tempo parcial já são a maioria.
Esta
preocupação vem paralela ao crescimento da população não-tradicional ou mesmo
daqueles estudantes que estão retornando às universidades. Estes estudantes requerem programações
diferentes dos cursos tradicionais. Por causa disto, a Educação de adultos
exigiu novos departamentos e padrões acadêmicos de procedimentos e de controle
administrativo. Em conseqüência disto, um sistema paralelo mais aberto de
Educação superior emergiu, baixando o status de novas universidades e faculdades. Desde que serve a estudantes adultos -- mais
precisamente a estudantes abertos à aprendizagem a distância -- este sistema paralelo tem
liberdade de experimentar mesmo se as universidades tradicionais resistirão.
Estas
tendências se ajustam a um precedente na administração das estratégias que
muitos temem mas estão se movendo para a desprofissionalização para desabilitação. A recolocação do tempo integral pelo tempo
parcial é meramente o ato da abertura dos planos para substituir a faculdade como
está pelos CD-ROMs. Um modelo econômico
novo de Educação está sendo vendido à guisa de um modelo tecnológico novo. Esta é a rota a que David Noble chama de "moinhos
digitais de diploma."
Compreensível, mas esta não é uma rota muito desejável.
A introdução da tecnologia educacional deve,
conseqüentemente, ser moldada num contexto mais amplo porque não é
primeiramente uma tarefa técnica.
Reflete a relação de mudança da gerência e do profissionalismo, que por
sua vez está de acordo com a introdução de testes padrões, de estandardização,
de qualidade e de controle da carreira.
A definição destas tarefas da evolução da tecnologia educacional irá em
conjunto. Desta forma, existe uma
tentação grande em pensar que a tecnologia é como uma ferramenta gerencial para
centralizar a universidade. Isto pode
realmente acontecer no ambiente desconcertante criado pela mudança
tecnológica. Uma vez no lugar, as más
decisões serão travadas dentro da técnica e difícil de inverter.
4. Educação Informativa
As tecnologias não são meros meios que conduzem aos
fins; dão forma também a mundos. Que tipo do mundo é instituído pela
Internet? O fato básico sobre as redes
de computador é a escassez de banda larga.
Esta limitação pode ser superada agora ao ponto onde o áudio e o vídeo
podem ser distribuídos pela Internet. Que as possibilidades inspirem
planos para a Educação automatizada.
Mas
a escrita é a tecnologia mais velha que nós temos, tratando-se de banda
estreita. Platão não tinha nenhuma
dúvida de queixar-se que a escrita não pode reproduzir a experiência real da
interação humana ao vivo. Por outro
lado, nós temos agora uma experiência rica do diálogo escrito online. E nós descobrimos neste contexto que a
escrita não é apenas um substituto pobre para o discurso e a presença física,
mas um outro meio fundamental com suas próprias propriedades e poderes. Não é impessoal, como se supõe, às
vezes. Nós sabemos nos apresentar às
pessoas através da correspondência escrita.
Não é mais difícil escrever sobre idéias do que falar sobre elas; a maioria das pessoas pode formular idéias
difíceis com muito mais facilidade nos
formulários da escrita online do que
no discurso diante de uma audiência.
Estas
considerações sobre a escrita são a chave da informação na Educação online.
O ambiente online é
essencialmente um mundo escrito (Feenberg, 1989). Nesta seção eu discutirei em que medida as
redes eletrônicas podem ser apropriadas por instituições educacionais com isto
em mente e não transformando-as em máquinas automatizadas de ensinar ou pobres
cópias de salas de aula face-a-face que não as reproduzem adequadamente.
Onde
quer que a Educação ocorra, o meio básico deve ser cuidadosamente distinto dos
materiais pedagógicos de apoio e de seus
papéis distribuídos corretamente. A fala
é o meio básico de comunicação na sala de aula, suplementada pelos
laboratórios, filmes, slides, livros - texto, demonstrações no computador e
assim por diante. A interação escrita
similar dos materiais pedagógicos de apoio é possível em redes. Nenhuma dúvida que estes apoios continuarão a
melhorar, e, talvez um dia, a mudar a natureza da Educação online. Mas por muitos anos por vir, a escrita continuará
a ser o meio básico da expressão online,
o esqueleto em torno do qual outras tecnologias e experiências devem ser
organizadas para construir um ambiente viável de aprendizagem.
Confundir
o meio com os materiais pedagógicos de apoio suplementares conduz ao absurdo
pedagógico da Educação sem aquele que ensina.
Substituir a interação online
escrita por esses materiais de apoio não faz mais sentido do que substituir o
professor na sala de aula face-a-face pelos laboratórios, filmes, slides, os
livros-texto e as apresentações pelo computador. Isso já foi tentado há muito tempo com a tevê
educativa e a Educação assitida pelo computador, mas sem sucesso.
Apesar
da promessa de automatização, o diálogo inspirou alguns technologistas
educacionais desde os anos 80 e um progresso considerável foi visto na
utilização de novos formulários para a interação entre professores e estudantes
(Harasim, et al., 1995: cap. 3;
Berge, 1999). Em 1981 trabalhei
com a equipe de projeto que criou o primeiro programa educacional online. Esta era uma escola da gerência e de estudos
estratégicos no Instituto Ocidental das Ciências do Comportamento no La Jolla,
Califórnia (Feenberg, 1993). Nosso
objetivo era permitir que executivos que não tivessem como freqüentar uma
universidade pudessem participar de uma experiência educacional humanística. A única maneira fazer isto, nessa época era o
curso de correspondência, já fora de moda, e de baixa reputação nos E. U.A. Ao
invés disso, nós optamos para um computador em rede, uma tecnologia
experimental imóvel disponível primeiramente em algumas companhias e grandes
universidades que tivessem acesso
público para troca de informação eletrônica (EIES- Electronic Information
Exchange System), assim como no instituto de Nova Jersey de Tecnologia. Estes eram os precursores da Internet como
nós a conhecemos hoje. Nós obtivemos êxito ao colocar nossa escola
no panorama da troca de informação e por quase dez anos eu colaborei com esta
experiência, treinando professores e dando aulas.
Quando
nós começamos, a Educação online ainda não havia sido tentada. O equipamento era caro e primitivo. Nós usamos Apple IIE com 48K de memória e um
modem de 300 baud. (multiplique por 1000
e por 100 respectivamente para obter médias atuais.) A complexidade de operações básicas do
computador naquela época era tal, que tomou uma página inteira de instruções impressas
apenas para conectar. O único meio
eletrônico disponível era o computador de conferência assíncrono, que permitia
que os grupos dessem forma às suas mensagens online. Os softwares educacionais online atuais
tais como o BlackBoard ou o WebCT continuam a executar muitas das funções
destes primeiros programas de fóruns.
Nenhuns
de nós ainda tinha sido um estudante numa classe online ou visto uma em
operação, por isso não sabiamos as respostas às questões pedagógicas mais
elementares, tais como: Como começar uma aula;
Quanto tempo as mensagens deveriam durar; e Com que freqüência o
professor deve intervir ou responder aos estudantes? Nós descobrimos logo que computador para
conferências não era muito útil para apostilas eletrônicas e, naturalmente, não
suportaria conteúdos gráficos, ainda que
fossem desenhos simples, desses que os professores gostam de rabiscar no
quadro-negro. Após experimentos
consideráveis e muitos erros, nós descobrimos como desenvolver uma pedagogia
Socrática baseada na discussão virtual da sala de aula. A escola acabou por incluir mais 150
estudantes em 26 países em torno do mundo e inspirou outras experiências na
Educação online. O campo cresceu
lentamente nesta base dialógica original, durante os anos 80 e 90.[10]
Usando o email e o
computador de conferência, criou inúmeras possibilidades para as universidades
americanas reproduzirem o calor da discussão na sala de aula online. Hoje a discussão existente em
tempo real vai se incorporando no ritmo do dia a dia. Com tempo para refletir e pensar nas
perguntas e respostas, os estudantes que nunca participaram de uma discussão
face-a-face, acabam entrando no
diálogo. O uso da escrita impõe uma
disciplina e ajuda a não perder o foco do pensamento. Desenvolve-se a faculdade de apreender idéias
num nível muito mais profundo, assim que se envolvem com elas no modelo online. As técnicas pedagógicas
inovadoras, tais como a aprendizagem colaborativa foram adaptadas à Internet e
aos novos formulários inventados para interação (Harasim, et al., 1995:
cap.6). Em experiências bem sucedidas,
as classes pequenas são a régra: vinte é
um número bom para se trabalhar. Há um
pouco de dúvidas se os professores competentes sob estas
circunstâncias podem reproduzir um
equivalente verdadeiro da interação em sala de aula.
No
Instituto Ocidental de Ciências Comportamentais (WBSI), a ênfase estava em uma
comunicação humana. Nossa versão da
Educação online foi concebida numa ruptura com o modelo da escola por
correspondência. Nós desistimos do uso
de materiais pré elaborados e iniciamos uma interação viva. Esta escolha não é mais necessária, a
Internet pode agora fazer melhor, mais do que oferecer materiais para os
cursos, pode também adicionar o contato humano a um modelo educacional que
sempre foi relativamente impessoal, usando fóruns, e-mails, grupos de discussões
podem ser montados nas comunidades online, dentro da qual podem
participar alunos e professores como se fosse numa sala de aula regular. A brecha entre o ensino por correspondência e
a aprendizagem online como nós a implementamos há vinte anos atrás pode
ser apagada.
Um
sistema automatizado de Educação online não se dá conta da vantagem
deste potencial novo da Internet, mas perpetua o modelo velho da escola da
correspondência. Estende simplesmente as
economias da escala associadas com a distribuição de materiais escritos em larga
escala pela Internet (Agre, 1999). Mas a
condição social para o baixo custo conseguido por escolas por correspondência,
ou as tradicionais ou as baseadas na Web é o isolamento do aluno. Por outro
lado, um sistema que inclua também a interação ao vivo tem um preço: um professor qualificado deve estar em cada
interação, as instituições podem economizar dinheiro em construções, mas não no
trabalho educacional, o maior item na maioria dos orçamentos das universidades.
O
que dizer sobre a ambição de substituir o campus pelas universidades
virtuais? Os grandes mercados para a
aprendizagem a distância emergirão indubitavelmente e isto será bom para muitos
estudantes que não podem estar presentes nas aulas das universidades. Esta tendência tem implicações importantes
não somente para adultos trabalhando no mundo avançado do capitalismo mas para
pessoas que residem em áreas rurais de países mais pobres. Mas se a Educação superior for cortada da universidade tradicional e de seus
valores, o que é abençoado se transformará num inferno. A melhor maneira de manter a conexão é assegurar que a
aprendizagem a distância seja executada pelos professores qualificados interessados
em ensinar, ao vivo, e não entregue em cópias de CD-ROM.
Os
materiais empacotados, pré-elaborados, então, serão para substituir, não o professor, mas o
conteúdo escrito da aula e o livro-texto.
A interação com o professor continuará a ser a peça central da Educação,
não importa qual seja o meio. E
naturalmente para a maioria dos povos, a interação continuará a ocorrer no
campus se tiverem os meios e a mobilidade para estar presentes numa faculdade.
5.
Conclusão: o futuro da Tecnologia Educacional
Atualmente
somos confrontados com os dois sentidos muito diferentes do desenvolvimento
para as sociedades democráticas, um que define a cidadania nos termos das
funções que os indivíduos exercem nos sistemas, tais como nos mercados,
empresas e administrações, enquanto outros concebem os indivíduos como
portadores de uma escala de potencialidades que ultrapassam toda a realização
profissional particular. A definição
daquelas potencialidades ocorre na experimentação estética, no debate ético e
político e em controvérsias técnicas. À
primeira vista caracteriza a modernidade como nós a conhecemos. A tendência desta modernidade deve substituir
uma comunicação humana onde quer que seja possível, pelos sistemas técnicos ou
burocráticos que realçam o poder de poucos em nome da eficiência. A Educação, deste ponto de vista, deve ser
estreitamente especializada e firmemente
controlada, em termos de custos e de
conteúdo. Os sistemas automatizados em
que uma comunicação é restrita à entrega de dados e de programas poderia servir
a este projeto.
O
segundo ponto vê a possibilidade de uma modernidade alternativa que realiza os
potenciais humanos ignorados ou suprimidos na sociedade atual. Muitos daqueles potenciais são
especificamente comunicacionais e dependem das práticas mesmas que estão sendo
eliminadas atualmente. Além disso, aqueles potenciais podem somente
expressar-se em um ambiente comunicativamente aberto. Esta visão implica uma Educação aberta à
cidadania e ao desenvolvimento pessoal, assim como a aquisição de habilidades
técnicas.
A
tecnologia educacional não determinará qual destes trajetos é seguido. Ao contrário, a política da comunidade
educacional que interage com as tendências políticas nacionais dirigirá o
desenvolvimento futuro da tecnologia. E
isto é muito importante para uma grande escala de atores que precisam ser
incluídos no projeto tecnológico (Wilson, 1999). Os estudantes e a faculdade trazem á baila um
número de considerações, incluindo o desejo de criar ferramentas que fazem a
interação humana, um desejo que se manifesta há muito tempo no processo de
evolução do computador.
Os
sistemas projetados pelas administrações que trabalham com fornecedores
incorporados serão completamente diferentes.
Automatizar a sala de aula é alimentar diretamente uma preferência para o vídeo, que parece
oferecer o equivalente o mais próximo "à vida real" e muito mais ao
entretenimento. Não estamos falando
sobre a antiga rede de transmissão de tevê, mas um tipo novo de vídeo, mediado
por computador capaz de apresentações muito mais bem elaboradas. Isto tem implicações para o projeto do
curso. Os produtos automatizados
tenderão a ser completamente elaborados, desde que confiem inteiramente no
computador para dramatizar sua mensagem e
motivar o estudante. Os
projetistas e os produtores de cursos controlarão o trabalho da faculdade que
pode oferecer desempenhos brilhantes no meio novo. Previsão, a tecnologia
educacional evoluirá aos níveis da complexidade de Hollywood.
Quando
realmente for acoplada a tecnologia nova de ensinar, o sentido da faculdade que
ainda não está maduro imediatamente mudará.
Na experiência real da Educação online,
a tecnologia não é uma coisa predefinida em tudo, mas um ambiente, uma
faculdade vazia na qual devem habitar e viver pessoas.Há uma relação de
trabalho com as tecnologias ainda que seja uma estratégia de
desenvolvimento. Tenta-se começar o
sentido dela de modo a animá-la, para projetar sua "voz" nela. Ao fazer assim, age-se fora de uma tradição
antiga que atribua a Educação às relações humanas muito mais do que a qualquer
equipamento.
Esta
diferença se reflete em ênfases tecnológicas diferentes. Quanto seria agradável ser um
professor-celebridade em uma classe virtual automatizada, a maioria das
faculdades não aspira a este status O
vídeo ao vivo, com seu instrumental complicado e intimidativo, não atrai
professores e estudantes. Obviamente
isto pode mudar na medida em que o acesso de banda larga à Internet se tornar
lugar comum, mas nós estamos muito longe de conseguir isto no campus, mais
fácil ainda é casa. As potencialidades
gráficas dos computadores são melhores se comparadas aos quadros-negros e às
salas de aula; são suplementos para melhor ensinar.
Estas
considerações governam o design dos cursos online animados por um
professor ao vivo. Esses cursos serão
criados geralmente sob seu controle, em formatos relativamente simples e
flexíveis. Nenhum profissional de
computador precisa ser envolvido, como na sala de aula convencional, muito do
interesse encontrar-se-á na interação entre estudantes e entre estudantes e
professores. Da mesma forma que as
técnicas de aulas, deve esperar-se um amadorismo saudável . Os materiais didáticos digitais
pré-empacotados para serem distribuídos não substituirão o professor, mas suplementarão
seus esforços assim como os livros-texto o fazem atualmente. Os desenvolvedores de softwares
perseguirão os de usos amigáveis e os mais simples, para que eles possam
adaptar-se às necessidades da universidade.
Embora
nem a vídeo-conferência, nem a aprendizagem automatizada travem a universidade,
há uma longa história do texto interativo baseado em aplicações tais como a
experiência no WBSI descrito aanteriormente.
Estas experiências remontam uma época em que não havia uma alternativa
mais bem elaborada; supõe-se extensamente que a introdução da imagem e do som
rende algumas aproximações mais avançadas.
Mas talvez que seja um erro. O
equipamento o mais recente não é sempre o melhor para uma determinada
tarefa. Poder-se-ia dizer que nossas
experiências anteriores com tele-conferência não estiveram confinadas meramente
ao equipamento primitivo então disponível, mas revelou, também, algo importante
sobre a Educação eletronicamente mediada?
Eu acredito nisto. Mesmo depois
de todos estes anos, as experiências pedagógicas online emocionantes,
envolvem interações humanas e para a maioria dos participantes continua a ser
baseada em textos .
Mas
está aqui um entrave: o texto interativo baseado nas aplicações faltam o entusismo das
alternativas do video e não podem prometer a automatização, nem podem ser
empacotados e vendidos. Não se conformam
com a fantasia do controle central total
sobre um sistema flexível, disseminado, que define limites espaciais e
temporais. Ao contrário, são de um
trabalho intensivo e provavelmente não cortam muito os custos. Daí a falta do interesse das empresas e dos
administradores e o eclipse gradual destas opções tecnológicas na discussão
pública (se não no campus). Mas ao
contrário das alternativas extravagantes, o texto interativo baseado em
sistemas atinge realmente objetivos pedagógicos legitimando a universidade e os
estudantes o reconhecem e o respeitam.
Resistir
à tendência de automatizar a Educação
não é simplesmente chafurdar num Mr. Chips sentimentalmente fora de moda. Melhor, é a questão de projetos
civilizacionais diferentes com bases institucionais diferentes. A concepção tradicional da Educação deve ser
preservada nunca fora da adoração não-crítica do passado, mas pela vertente do
futuro. Eu tentei mostrar aqui que a
tecnologia educacional de uma sociedade avançada pode ser formada pelo diálogo
educacional, da mesma forma que a produção orientou a lógica da
automatização. Se uma aproximação
dialógica da Educação online prevalecer em uma escala bastante grande,
poderia ser um fator de mudança social fundamental.
6. Referências
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Distances of Education: Defining the Role of Information Technology in the
University," Academe, September.
Berge, Zane (1999).
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1997.
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Third Circle: On Education and Distance Learning," Sociological Perspectives, Vol. 41, No. 4, 1998.
Feenberg, Andrew (1991). Critical Theory of Technology. New York:
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Between Design and Use, " Educational
Technology, vol. 39, no. 1.
Zuboff, Shoshana (1988). In the Age of the Smart Machine. New
York: Basic Books.
[1] Este texto foi extraído de
um recente trabalho que realizei no campo da Educação a distância,
particularmente em muitos debates públicos de que participei sobre a automação
da Educação. (nota do autor)
[2] Tradução a partir do original cedido pelo autor,
realizada por Luci Mendes Bonini e Maria de Lourdes Masiero (Universidade Braz
Cubas, Mogi das Cruzes, SP, Brasil)
[3] Mais apontamentos sobre a centralidade da cidade na
vida moderna veja Sennet (1978) e Berman (1988) n.a.
[4] Para discussões
do código técnico da Internet, ver Flanigan et al (2000) e Feenberg e
Bakardjieva (2001) n.a.
[5] Tecnologia utilizada na França,
essencialmente no final do século XX, um dos precursores da www. (fonte wikipédia) Nota dos tradutores.
[6]
Bruno Latour é o autor da Teoria da rede de atores (Actor-network theory – ANT)
que tenta explicar as redes materiais-semióticas vêm juntas e agem globalmente.
A abordagem ANT vê um baco com uma rede e como um ator que juntos por um certo
propósito agem com uma simples entidade.
1 [7] Uma referência aos conteúdos das disciplinas básicas oferecidas nos Colleges, escolas que precedem à entrada dos alunos às universidades
2 [8] Referência à rede de locadoras de games e filmes espalhadas pelo mundo.
3 [9] Nos EUA , nota dos tradutores
1
[10]
Para uma versão atualizada desta introdução de grupos na Universidade de
Illinoiss, ver Teaching at an Internet Distance (2000).